segunda-feira, 22 de julho de 2013

Aborto legal, feminismo e Marcha das Vadias

A ideia desse post surgiu quando numa conversa no leito familiar surgiu uma discussão sobre a legalização do aborto e o que a mulher pode ou não fazer com o seu corpo. Ai eu fiquei pensando "Sendo o corpo da mulher, e sendo ela que irá supostamente criar a criança, qual o direito a sociedade têm de proibir o aborto?" Se a mulher não quer ter o filho ou se ela acha que não terá condições de cria-lo, ela tem sim o direito de fazer o aborto. É fácil falar que é contra o aborto, quando não esta grávida. É realmente muito fácil dizer que é contra o aborto quando não é na sua família que alguém morreu por conta de um aborto ilegal. O aborto é sim realizado, e é uma realidade nas periferias brasileiras e também está presente na classe rica do país. Mas quem tem o dinheiro e capaz de pagar por um aborto seguro em mãos medicas, enquanto quem não tem corre o risco de infecções e de morte.

Quando se fala do aborto, sempre vem aqueles que têm como pensamento "É da vida de um ser que estamos falando. Não se pode simplesmente mata-lo." Sim, estamos falando de uma vida, a da mulher que pretende fazer o aborto. Por quê o que é mais importante, uma suposta vida (porque a divergências quando a questão é: a partir de qual momento o feto é considerado uma vida) ou uma vida concreta que é a mulher? Se o aborto acontece com ou não a sua legalização, então por quê não legalizar? Por que não dar assistência as mulheres que querem fazer o aborto? Nossa sociedade está totalmente errada em deixar essas mulheres morrerem, o país têm que mudar.
Nesse contexto, eu lembrei de um trabalho que eu fiz na escola que o tema era o movimento feminista.
Logo após a apresentação do trabalho do meu grupo, minha professora disse: "Não concorda, não faça. Mas não tire o direito do outro fazer." E essa frase ecoa na minha mente até hoje, e eu não consigo entender as pessoas que querem proibir o aborto, sendo que não afeta e não atrapalha sua vida em absolutamente nada.  A decisão do aborto é da mulher que pretende fazer, e nós não temos o direito de negar um direito que ela tem.

A Marcha das Vadias faz parte do movimento feminista, e que é muito importante. O movimento, além de lutar a favor da legalização do aborto, lutam também pelos direitos da mulher como um todo. Esse post não é apenas sobre o aborto, e também sobre o feminismo e sobre os diretos das mulheres. Pensando nisso fui atrás das auto denominadas Vadias para elas tentarem esclarecer essa digamos, diferença de ideias.


Por que "Vadias"?

R: Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, porque transamos quando e se queremos, porque levantamos o tom de voz em uma discussão, porque dissemos “não” a um homem, porque não seguimos o que a sociedade ou nossa família espera de nós, porque andamos sozinhas à noite ou quando somos estupradas.
Hoje, nossos direitos estão ameaçados porque políticos, Igrejas e lideranças religiosas se aproveitam da fé das pessoas para oprimir mulheres, homossexuais, negros e outras minorias políticas. O Estatuto do Nascituro quer aumentar o controle das religiões e do Estado sobre os corpos das mulheres e legitimar o estupro. Se for aprovado, vai impedir o aborto em casos de estupro e de risco de vida para a mãe, que já são permitidos por lei, além de dar direito de paternidade ao estuprador, forçando a mulher e a criança a conviverem com ele. Mas NÃO aceitamos! Continuaremos lutando para sermos livres de rótulos e de qualquer tentativa de opressão e controle às nossas vidas, à nossa sexualidade e aos nossos corpos.
Se ser livre é ser vadia, então somos vadias! E seguiremos lutando até que todas sejamos livres!


Entre todas as reivindicações que vocês fazem nas Marcha das Vadias, quais são as principais?

R: Em 2011, fomos duas mil pessoas marchando por uma sociedade sem violência contra a mulher. No DF, marchamos porque houve cerca de 684 inquéritos policiais em crimes de estupro – uma média de duas mulheres violentadas por dia -, e sabemos que ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos. Dia 26 de maio deste ano, marchamos porque, no Brasil, aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano e, mesmo assim, nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro. E continuaremos marchando porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens. Marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que devem ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual. Marcharemos para que não restem dúvidas de que nossos corpos são nossos, não de qualquer homem que nos assedia na rua, nem dos nossos pais, maridos ou namorados, nem dos pastores ou padres, nem dos Congressistas, nem dos médicos ou dos consumidores. Nossos corpos são nossos e vamos usá-los, vesti-los e caminhá-los por onde e como bem entendermos. Livres de violência, com muito prazer e respeito!

Como está funcionando a organização do evento? Vocês estão tendo apoio de outros órgãos?

R: A organização da Marcha é totalmente construída por mulheres integrantes do Coletivo Marcha das Vadias/DF, sem apoio de nenhum órgão ou instituição. Dentro da Marcha, há meninas que militam em diversas esferas, institucionais ou não, mas, enquanto coletivo, nossa organização é horizontal e autônoma.

Gostaria de agradecer a @MarchadasVadiasDF por terem tão gentilmente respondido as minhas perguntas.

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