quarta-feira, 31 de julho de 2013

Internação compulsória ou ação "higienizadora"?

A verdade é que ninguém conhece um método para tratar um dependente químico. E agora que estamos perto da copa do mundo, o governo brasileiro quer de todas as maneiras possíveis limpar as ruas. E para isso acontecer, eles querem tirar os usuários de drogas, principalmente do crack, das ruas. Assim sendo, veio a questão da internação compulsória, ela é de fato a melhor maneira para tratar os usuários?

O doutor Drauzio Varella disse que "se sua filha estivesse maltrapilha e sem banho numa sarjeta da cracolândia, você a deixaria lá em nome do respeito à cidadania, até que ela decidisse pedir ajuda? De minha parte, posso adiantar que fosse minha a filha, eu a retiraria dali nem que atada a uma camisa de força." Concordo que ver sua filha numa situação como essa deve ser difícil e eu iria querer um tratamento digno para ela, mas se você internar sua filha e ela vai receber um tratamento digno? Ela vai ter a chance de se tratar? Crio que não, o Brasil não tem local ideal para internar os usuários, a internação apenas não surtirá efeito que desejamos. Se vocês entrarem no site do estado de São Paulo, saopaulo.sp, eles estarão falando maravilhas sobre as internações compulsórias. Mas como já dito, o governo não esta pensando em tratar os usuários, ele está preocupado em limpar as ruas. E não só o estado de São Paulo, mas como o Brasil em geral, não tem como tratar todos, e não tem locais ou até profissionais adequados para o tratamento da população que é viciada.

O projeto de Lei 7.663/2010, do deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS), que altera as condições de atenção aos usuários, como internação compulsória, foi criticamente repulsado pela professora Eroy Silva: “A droga, inserida no contexto de sociedade, é um fenômeno muito complexo e aceitar medidas como essa é um retrocesso." É exatamente esse o ponto, não temos que nos preocupar em tirar os usuários de drogas das ruas, nós temos que pensar em: como tratar com respeito e dignidade os usuários e prevenir que existam novos usuários. Temos que fazer campanhas contra as drogas. Não devemos pensar nos usuários como apenas usuários, eles são pessoas. Temos que pensar no motivo que os levou as drogas, pensar em como prevenir novos usuários, fazer campanhas de conscientização contra as drogas. E não só drogas como o crack, mas também em drogas como o tabaco e o álcool. No programa Na moral do Pedro Bial, foi dito que o tabaco é a porta de entrada para as drogas "mais pesadas". E pensar em apenas tranca-los e não os tratar, e pensar que o problema é apenas o crack, é sim um retrocesso.
O Brasil não cuida dos seus doentes, não cuida da educação, não da estrutura para os jovens, e quer de uma maneira magica acabar com os usuários de drogas. Não é assim que funciona, para isso acontecer leva tempo. Não vamos encontrar tão facilmente uma maneira para acabar com esse problema. Nós temos que pensar em como inserir esses ex-usuários de volta para a sociedade, porque trata-lo e depois deixa-lo voltar para aquele ambiente, seria a mesma coisa de que não tratar. A luta contra as drogas, vai além de apenas tratar esses usuários.
Quando questionado sobre a eficiência dos tratamentos que ocorreram através da internação compulsória, o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (PROAD), diz: "Existem estudos mostrando que nesses modelos de internação compulsória o máximo que se consegue de eficácia é 2%, ou seja, 98% das pessoas que saem da internação recaem depois. Certamente, porque a pessoa não está nem convencida a parar."

Se eu tivesse uma filha maltrapilha na sarjeta da cracolândia, eu não iria interna-la compulsoriamente, porque eu estaria de certo modo concordando com esse projeto, que não passa de uma medida "higienizadora" e de especulação imobiliária. Se a internação compulsória não é a melhor saída, se os tratamentos dos usuários que são internados compulsoriamente em sua maioria não surte efeito, para quê investir em algo que já em seu início vemos que não dará certo?

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